30.9.09

só isso, simplesmente

meus dias não são dias,
são semanas inteiras,
que se estendem no limiar do sentido
e se comprimem, bem de perto, no coração

minha gente não é gente,
são pedras preciosas, espalhadas na terra
e pedregulhos cinzentos, duros, frios e calculáveis

meu dono não é dono,
é Senhor, com voz que treme e desmancha
e abraço que remonta tudo outra vez

27.9.09

Resolução de 27 de Setembro

Corei de ver a vida passar. E é incrível como ela consegue ser tão cruelmente bonita!
[Como não queria ver mais dois poemas seguidos, faço qualquer coisa aqui]

Suspiramos tanto e vemos tanta TV, parece que nada nunca vai chegar. Mas aí, um dia chega, e começas a se contorcer pra ver o mundo em 360 graus. Dá vontade de que tudo seja muito mais simples! Muito mais! Afinal, por que não apenas sobreviver (o problema é que só de fazer essa pergunta, já me vem a resposta, clara e óbvia, mas nada confortável...)?
Não sei realmente se é só preguiça.
No fundo, acho que não. É que me atropelaram de um ano para o outro (e por diversos lados). "Atropelar" parece sério demais, mas como não consigo (e não quero) achar outra palavra, fica ela mesma! Vem vários fantasmas juntos, e por mais que você não se desespere... você se desespera! A questão é: fazemos tanto para um dia sermos alguma coisa, mas na verdade não temos como descobrir o que seremos até sermos! Tantas coisas fazem parte de uma vida, cercada de muitas cores, muitos sons. Sempre quando algo te incomoda, há uma outra voz que te chama pra perto e te faz ver as outras cores que não se tornaram cinzas (por um tempo, porque é sempre por um tempo). Às vezes os passos parecem não convergirem para o mesmo lugar, mas o que? Somos ainda jovens e queremos saber o futuro?
O que me incomoda é que algo me incomoda, e não as outras coisas normais de gente normal (às vezes me trato como sendo extremamente diferente, mas pelo tom da minha voz, se vê a ironia e minha normalidade... Mas ser normal não significa que não se possa ter desejos extremamente anormais). Mas não vejo como chegar lá. Mas, pensando bem, eu sou míope, e as chances de eu enxergar ao longe já não são naturalmente boas.
Vamos ver no que vai dar (além de grandes piadas aos netos).

21.9.09

Como se parar o Tempo

Como é, cadê lá?
Vem de encontro, abre mar
Como é, como é?
Abre porta, segura pé
Inda agora, vou me embora
Sai da roda, vai de novo
Cadê hora? Verte e chora
Vá lá, vai! buscar teu povo

Anda hora, vai de novo
Passa hora, cai de novo
Lava mão, levanta e vai
Paga nada, manda e faz
Faz o peito, faz a gente
Mata o medo, varre a frente
Anda o passo, torto e reto
Cadê hora? Mais de perto

Hora mora enquanto quase chora
Hora para pra que o mundo caia
Hora esquece, desfalece
Volta o tempo, fim de lamento

Como é? Vai parado?
O mundo estreito, pouco porte
Vai luzindo, lado a lado
lento e pouco, muito e forte
Cora e cai, joelho bate
Olho a olho, vermelha terra
Peito vai, xeque-mate
Nasce o novo, velho encerra

Anda hora, vai de novo
Passa hora, cai de novo
Lava mão, levanta e vai
Paga nada, manda e faz
Faz o peito, faz a gente
Mata o medo, varre a frente
Anda o passo, torto e reto
Cadê hora? Tem fim certo

14.9.09

Conversa (2)

- E aí? Melhorou?
- Como se você não soubesse... Melhorou sim.
- Sempre sei, mas gosto quando você me fala por vontade própria.
- Obrigado... Fez muita diferença mesmo... Quer dizer, nada mudou efetivamente, mas... Mas, é bom saber que isso tudo leva a algum lugar.
- Só tome cuidado para que leve ao lugar que quero.


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13.9.09

Independência com Morte

Acordei um dia e vi:
Um quarto leve e gostoso, sem luxo, sem maiores decorações, mas tinha sobre mim uma cama, e ao meu lado, armário. Saí pela porta e me deparei com o corredor, pequeno e verde, mas um aconchegante corredor, que dava até a cozinha. A cozinha não tinha nada de especial, apenas uma mesa pequena, geladeira amarela e fogão, microondas, pia, torradeira. Os azulejos eram preto-e-branco. Não estava repleta de comida, mas tinha ao menos um pouco em cada armário marrom. A cozinha dava para a rua. Uma rua com seus buracos e casas não tão elegantes, mas muito enxuta e segura, tinha até um ponto de ônibus. Do ônibus, se viam as casas correndo pela janela, no contraste com os bancos laranjas e piso metálico. Não era o ônibus mais confortável que andei, mas era um bom ônibus. No outro ponto já vi uma nova rua. Essa, um pouco mais estreita, se estendia por meio da nuvem de fumaça dos carros de todos os tipos (menos dos tipos mais caros). Andando por lá, as casas andavam ao meu lado. Se viam suas rachaduras, porém eram casas... bonitas? Acho que sim. A esquina me ofereceu uma nova visão. Dessa vez, as casas tornaram-se menores e mais vermelho-alaranjado. As roupas se estendiam pelos muros e tetos, banhadas pelo Sol. Não era uma visão que me agradava. Felizmente, dobrei mais uma rua. Infelizmente, nem casas vi. Vi quartos: cada qual com sua cama e paredes (algumas compartilhadas), mas as camas eram de papelão, e as paredes não eram deles, que ali repousavam (nem das moscas que os rondavam). Quase fechei meus olhos, mas continuei... não dá pra ficar pior. Vi suas cozinhas. Coincidentemente, pareciam-se muito com onde eu jogava os restos da minha comida. Parei. Voltei. Lixo, beco, papel, lugar, mãos sujas, papelão, tocas, furos, cheiro, largar, casas, tijolos, tijolos e roupas, sol, varal, gato, garrafa, buraco, cinza, grama, morta, carro, fumaça, caras, fumaça, relógio, assentos laranjas, corda, luz, metal, freio, ponto, seguro, árvore, jardim, casa azul, verde, amarela, vermelha, portão, cozinha, corredor, quarto, ufa! Ainda bem que meu quarto continua o mesmo... Não há com que me preocupar...