7.7.10

Meu medo-próprio

O mundo em volta existe quase que sumindo. Pelo menos nestes momentos.
Seria demais arriscar um beijo? Ou ele também desvaneceria? Já não sei como saber. Muitos poetas já vasculharam por estes quartos sombrios que temos na gente, buscando definições de coisas que parecem nascer prontas, como tristeza, saudade, raiva, amor... Nunca fiquei satisfeito com nenhum deles - apesar do encanto que podem trazer suas palavras. É verdade que a busca insistente pode ter valido a pena (se não chegaram em boas respostas, pelo menos boas perguntas eles tem) e talvez eu mesmo seja impelido a fazê-la. Mas não hoje.

Hoje já é um dia diferente. Um dia sem você.
Certo... confesso que nunca passei um dia com você, mas não terei mais a sua companhia em meus sonhos - talvez nos pesadelos. Já nem lembro mais porque queria-lhe por perto. Não digo isso pelo que se passou ontem, mas pelo que se passa todos os dias; não só comigo, mas todos. Nascemos e pouco depois somos induzidos a esperar pelos outros. Veja só, todas nossas expectativas são direcionadas a um alguém; a todo instante, andamos, respiramos, compramos, comemos ou deixamos de comer por causa dos outros. As nossas decisões repousam sobre todo um chão de conselhos, aprendizados, ordens e olhares.
Somos escravos do outro.
No entanto, o humano raramente vive para o outro. Andamos, respiramos, compramos, comemos ou deixamos de comer sempre olhando para dentro, quase contraídos. Tendemos a sempre pensar através de nossa mente, olhar pelos nossos olhos - o que seria muito natural, se não dependêssemos dos que nos cercam. A conta apresenta diversas incoerências: o ser precisa do contato e aprovação do seu próximo, é regido por essas expectativas, mas nunca se lança a ele, fica preso em si mesmo. Ora, se as outras pessoas são importantes tão somente para alimentarmos uma imagem própria que aceitemos, por que ainda estamos grudados nela?
Somos escravos de nós mesmos.
E se, por um momento, não nos importássemos com o que pensamos sobre nós mesmos... estaríamos livres dos outros. E então, fugiríamos para um mundo próprio e solitário, enfim satisfeitos? Não... sumiríamos, assim como o mundo, se assim o fizéssemos. Se nos libertarmos da opinião dos outros, estaremos igualmente livres para nos desvencilhar da sombra do medo-próprio e nos atirarmos ao outro; servir... amar.
Só podemos ser verdadeiros se nos esquecermos? Bem, não é possível esquecer a nós mesmos... Mas se tivéssemos um lugar-seguro, um banco onde o medo-próprio pudesse descansar - e desvanecer com o tempo - passaríamos a andar, respirar, comprar, comer ou deixar de comer porque escolhemos, não por causa daqueles que olham sobre nós. E assim, passaríamos a perceber como as pessoas vivem e como poderíamos ajudá-las - afinal, por mais que estivéssemos libertos do julgamento exterior, não significa que deixaríamos de depender da presença de humanos à nossa volta.
E esse banco? poderíamos fazê-lo? Acredito que não... da mesma forma que não tivemos controle algum sobre nosso próprio nascimento, algumas coisas na vida não podem ser operadas por humanos. Está na hora de admitirmos que não nos dominamos... que a vida não foi feita pelo acaso e que o destino não controla os passos nossos.

Enfim, o que quero dizer é que te queria perto por causa de mim mesmo... e isso é errado. Quando te quiser por sua causa, voltarei.