28.11.11

Barco Eterno

Quase sem velas, paira sob as águas
Deslizando, pesado e lento.
O capitão, absorto em solidão e fracasso,
Iça, puxa, cansa e geme.
Corre louco em redor, bradando,
De punhos cerrados às vagas estrelas,
Quase sem respostas ou nitidez ficam
Longe e inalteradas, quase indiferentes.

Mas o homem-do-mar sabe
Que delas vêm a vontade sobre o medo
Na esperança última da luz.
Qualquer uma! Morte ou vida!
Porém...
Nada...
Somente um pálido olhar
De quem está com preguiça.

E vai ele, marujo condenado,
Dobrando, passando, tremendo e gritando.
E nem mesmo obtém resposta
De seu único companheiro, frio e inflexível.
Não dobra nem à direita ou à esquerda,
Num mesmo ritmo semi-morto,
Lento demais para revirar a mente de um são,
E rápido o suficiente para dar passo
A uma nauseante inquietação
De quem nunca para,
Nem mesmo para morrer.

Colocado ali um dia
Com a tal benção ou maldição
De nunca afundar - por inteiro.
De nunca perder seu timoneiro,
E eternamente vagar pelo mar.
Visão radiante... para um iniciante...
Que distorce na primeira tormenta.
E chocando com pedras e pedras,
Atrai o desejo último - quiça inevitável
De parar, enfim, parar...

[escrito em Florença]